Recentemente um parágrafo de um livro me incomodou. Estou revisando um livro em que a autora insiste sobre a importância da prestação de contas para evitar erros que podem machucar para sempre pessoas que amamos e nós mesmos. Eu concordo com isso 100%! O que me incomodou foi que todas as pessoas citadas por ela são profissionais pagas: duas mentoras, uma terapeuta e uma coach.
Primeiro, ela presta contas da própria vida para quem quiser. Segundo, deve ser muito bom pedir ajuda a pessoas capacitadas, treinadas mesmo, a ajudar. Mas, ainda assim, senti falta de uma amizade nessa lista.
Onde estão os amigos que confrontam nossas ações e com quem conseguimos nos abrir a ponto de estar dispostos a ouvir aquilo que desagrada? Poucas vezes fui confrontada por uma amiga, e não porque seja perfeita, certamente. É que me abro pouco, e quando o faço não sei se elas estão confortáveis o suficiente para expor o que pensam de verdade. Talvez sintam medo de magoar ou creem que não levarei em consideração o que digam, não sei.
Creio que nossa noção de amizade tem muita influência das produções audiovisuais, nas quais as pessoas estão sempre juntas, nos momentos bons, nos ruins e também nos momentos em que nada acontece. Na vida real podemos ter amigos que estejam conosco nos momentos bons (uma festa de aniversário, de casamento, a comemoração de um evento feliz, um rolê de bar ou de cafeteria etc.), e podemos ter amigos que estejam ao nosso lado nos momentos ruins, em menor quantidade, sim, mas alguns estarão lá.
Agora, quando nada acontece, nos longos dias de rotina sem novidades, sem reviravoltas, quem está ao nosso lado? Como a amizade se dá nessas fases? E nesses momentos, quem está perto o suficiente para notar pequenos desvios e nos chamar de volta a um caminho mais saudável?
Estamos vivendo tão cada um a própria vida, ocupados com tantas coisas, que sinto falta de alguém se metendo nas minhas decisões, palpitando com amor. Não quero ser só celebrada por meus amigos, com consolada por eles. Quero a liberdade de ser corrigida por pessoas que se importam a ponto de expor o que sentem, independente da minha reação. Será que essa também é uma vontade fruto de muitas maratonas de Friends?
lembrei dessa música maravilhosa da sé The Wonder Years <3
Uma vez, sentados na sala de casa, meu pai e eu ficamos em silêncio. Ele tava fazendo nao sei o que, eu noutro canto do sofá, pensando tbm nao lembro mais o assunto.
Oq eu lembro foi o que meu pai disse depois de um tempo nos dois em silencio: "as vezes, filho, a intimidade e proximidade entre duas pessoas se mostra qndo elas conseguem ficar juntas e nao se incomodam com o silencio entre elas".
obs.: naquela epoca nao tinha os nossos atuais smartphones.
Talvez o que precisamos eh disso: pessoas que fiquem prox, em silencio, sem se incomodar. Mas que estejam ali, na monitoria da vida, no tédio. Boa parte da vida é isso: mesmice.
Acho q ao participar conosco desses momentos os amigos entenderam o que melhor dizer pra gente, qndo for necessário. Senao eles so vai saber da gente nesses momentos (raros) de nao marasmo.
Num mundo em que todo mundo vive pra si, tem de se pagar alguém, pq so assim se tem alguém com "incentivo adequado" pra te ouvir sobre como é viver em meio ao nada que ocorre.
Amigos pra estar no meio do tédio é difícil. Rezemos pra que achemos alguns no meio do caminho.
Lembrei da música: "Amigo, estou aqui (2x) / Os seus problemas são meus também / Amigo, estou aqui" do filme Toy Store